HUMBERTO COELHO: O SENHOR CENTRAL FAZ 70 ANOS

É um dos rostos da Mística! Humberto Coelho está de parabéns! A glória do Benfica celebra nesta segunda-feira, 20 de abril, 70 anos, muitos deles vividos no Clube do seu coração. A história, a memória, o exemplo e os números são incontornáveis...

Não, não foi uma caminhada fácil... e é por isso, acima de tudo por isso, que hoje, no dia em que completa 70 anos de vida, deparamos com um homem realizado, feliz e muito, muito grato. É com um brilhozinho nos olhos – daqueles que só quem sabe o que foi preciso calcorrear para chegar até aqui! – que Humberto Coelho se assume como um apaixonado pela vida.
"Entrava às cinco da manhã na tinturaria Sifal e saía às quatro e meia da tarde para poder entrar na escola Infante Dom Henrique às seis e meia, para tentar tirar o meu curso. Isto tudo fez de mim o que sou hoje. Agradeço tudo o que tenho e sou ao futebol e ao Benfica, mas também a essa primeira etapa da minha formação." Aí está, e está dito de coração e alma na voz! Só quem as passou...
As entrevistas, declarações, parabenizações chegam um pouco de muitas e variadas frentes, mais uma vez privilégio de quem sempre soube valorizar as pequenas grandes conquistas de uma vida ganha a pulso, à conta de muito trabalho, alguns sacrifícios, entrega e paixão.
E a frase é absolutamente sintomática: "Olhe, vivi a vida. Trabalhei muito, o futebol deu-me muitas coisas e, como sou alegre e positivo, estou tranquilo. Gostaria de ser recordado como uma pessoa dedicada, correta, respeitadora, com princípios e entrega. Que sempre respeitou, desde pequeno, tudo o que fez. A formação, a educação, a paixão, a seriedade", pode ler-se numa extensa entrevista publicada nesta segunda-feira no jornal "A Bola".
Humberto Coelho
"AGRADEÇO TUDO O QUE TENHO E SOU AO FUTEBOL E AO BENFICA…"
Humberto Manuel Jesus Coelho nasceu em Cedofeita, no Porto, a 20 de abril de 1950. De família humilde, gente trabalhadora e séria, o jovem sempre soube muito bem o que queria – era com a "redondinha" que sonhava, mas não havia consenso, bem pelo contrário!
A bola não dava futuro, diziam-lhe os familiares, passavam-se dificuldades, e, para evitá-las e ser alguém, Humberto dedicava-se então aos estudos... aprendia as lides da vida, mas, ao mesmo tempo, sonhava em marcar golos de cabeça como José Águas ou Germano, ídolos e referências-mor.
Fiel às gerações e aos conselhos dos mais velhos da casa, estudou, ainda praticou outros desportos (basquetebol e voleibol), mas o que tem de ser, tem mesmo muita força e há dons, aqueles que nascem connosco, que não se aprendem nem ensinam, que teimam – e teimam mesmo – em vingar!
De forma inevitável, Humberto Coelho começou a jogar futebol, primeiro no Arsenal do Bessa, depois no Ramaldense, alinhando na equipa de juvenis. As suas exibições, e também a peculiar forma de "mandar" em campo, valeram-lhe elogios e vários clubes começaram a surgir...
Humberto Coelho
"GOSTARIA DE SER RECORDADO COMO UMA PESSOA DEDICADA, COM PRINCÍPIOS E ENTREGA"
E surgiu o Sport Lisboa e Benfica, ganhando a corrida aos demais! Corria o ano de 1966 e eis que o jovem portuense chegava à Luz, tendo cabido a Ângelo Martins, treinador dos juniores de então, recebê-lo e treiná-lo durante duas temporadas... Com muito trabalho, resiliência, aos poucos e sempre respeitando os mais velhos, foi apadrinhado e acarinhado pelas glórias de então... mal sonhava na altura que viria a tornar-se uma delas, ganhando lugar na bancada dos eternos.
E como o sucesso dá muito trabalho, eis a oportunidade esperada! Dois anos depois (1968) os desejados seniores onde ganhou – e bem o mereceu – estatuto de titular absoluto deste os 18 anos de idade, no eixo da defensiva, ao longo de tantas épocas!
"O Benfica é um dos melhores clubes do mundo. E essa grandeza já se sentia naquela altura, em 1966. Faltava-lhe ainda percorrer caminho para usufruir de todas as condições, a nível de infraestruturas, mas era uma potência mundial e campeão europeu", revelou ao jornal "Record", numa longa entrevista datada de domingo, 19 de abril.
"O Benfica era alvo de interesse planetário para efetuar várias digressões pelos quatro cantos do mundo", acrescentou... e foi precisamente numa dessas viagens que a sua grande viagem começou! 
"O Humberto Fernandes [campeão europeu em 1962], um dos centrais do plantel, ainda não tinha renovado contrato e andou ali uns dias a adiar a assinatura. E o Otto Glória, como havia a digressão à América do Sul e precisava de outro central, levou-me. No primeiro jogo, em Belém do Pará, entrei de início. Correu-me bem e nunca mais saí", contou.
Humberto Coelho
EM 14 ÉPOCAS NA LUZ CONQUISTOU 22 TÍTULOS OFICIAIS, SOMOU 672 JOGOS E MARCOU 113 GOLOS!
Ora, deste particular a 8 de agosto à estreia oficial nos seniores a 8 de setembro passou somente um mês... corria o ano de 1968!
Na 1.ª jornada do Campeonato Nacional, frente ao Belenenses, o jovem defesa de 18 anos não acusou o nervosismo e contribuiu para a vitória por 4-1, com uma excelente exibição, a primeira de tantas, tantas! 
Humberto Coelho afirmou-se, singrou e revelou desde cedo as características que marcaram a sua carreira: exímio cabeceador e detentor de um forte sentido posicional. Mais tarde, confirmou também ter uma forte veia de goleador, ao marcar um total de 113 golos, feito verdadeiramente impressionante para um defesa... isto tendo ele começado como avançado no norte de Portugal nos seus tempos de menino.
E o primeiro, o primeiro golo nunca se esquece... "Foi ao Barreirense, ao meu grande amigo Bento", recorda um emocionado Humberto.
A sua capacidade inata de comando valeu-lhe a braçadeira de capitão das águias em 268 jogos. "Digam o que disserem, ninguém aprende a ser líder. Nada fiz para ter a braçadeira de capitão ou ser olhado como representante de grupo. Foi sempre consequência natural da minha forma de estar e de como defendia a equipa", conta.
Era um senhor central, mandão, capitão e rosto da Mística, impunha respeito, era dele a voz de comando, o grito de revolta, o líder... E isso é inato, sim, senhor, e vinca-se através do exemplar trabalho... à antiga, à Benfica!
Humberto Coelho
"O BENFICA É UM DOS MELHORES CLUBES DO MUNDO. E ESSA GRANDEZA JÁ SE SENTIA NAQUELA ALTURA, EM 1966"
Jogador de nível internacional, um dos melhores defesas-centrais de sempre do futebol português, conta um total de 63 internacionalizações e seis golos ao serviço da Seleção Nacional A. Teve ainda passagens por Paris Saint-Germain e Las Vegas Quicksilverantes de regressar ao Benfica, onde terminou a sua carreira aos 33 anos.
14 de setembro de 1983, Humberto Coelho disputou a sua última partida pelo Clube, no triunfo frente ao Linfield, por 3-0, a contar para a 1.ª mão da 1.ª eliminatória da Taça dos Clubes Campeões Europeus. "Aqueles eram tempos mais difíceis", explica.
E vamos aos números! Num total de 14 épocas de Manto Sagrado, entre 1968-1975 e 1977-1984, conquistou 8 Campeonatos Nacionais, 6 Taças de Portugal, 1 Supertaça e 7 Taças de Honra. Foram 22 títulos oficiais, num somatório de 672 jogos totais! É obra!
"Eu fazia tudo. Defendia, atacava, marcava golos e até marcava penáltis. Mas, acima de tudo, era um jogador que me preocupava com o coletivo. A minha paixão pelo futebol era e é grande. Em miúdo, dormia com uma bola, feita de meias e jornais, debaixo do travesseiro da cama. Mais tarde tive uma de borracha e só deixei de dormir com ela quando o cão do meu vizinho a mordeu e a esvaziou, chorei", revela ao diário "A Bola" um Humberto que não tem dúvidas em eleger os craques: "Chalana era extraordinário, e, a seguir ao perfeito Eusébio, era ele."
Humberto Coelho
APADRINHADO PELAS GLÓRIAS, MAL SONHAVA QUE VIRIA A TORNAR-SE UMA DELAS, GANHANDO LUGAR NA BANCADA DOS ETERNOS
Olhando para a equipa atual do Benfica também não tem dúvidas em apontar... "O Rúben tem muito de mim. Tem todas as capacidades para chegar muito longe." Olhando mais para trás, "há dois jogadores do Benfica, os brasileiros Ricardo e Luisão, algo parecidos". "O Ricardo gostava de sair a jogar, mas não era muito bom de cabeça. E o Luisão era muito bom de cabeça. Talvez uma mistura de ambos", descreve ao jornal "A Bola".
O Benfica deu-me tudo aquilo de que precisava para ser quem fui. Em termos pessoais deu-me um papel na vida social, promoveu a minha integração, proporcionou a confraternização com outros jogadores e a criação de amizades eternas”, elogia um Humberto Coelho pleno de gratidão.
Jogador, treinador, selecionador, filho, marido, pai extremoso, cidadão do mundo, apaixonado pela vida, pelo que construiu e soube manter, definindo prioridades e nunca perdendo as origens, a glória do Sport Lisboa e Benfica é atualmente vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol e continua de forma empenhada e apaixonada a viver o futebol.
Como é que se consegue tudo isto, Humberto? "Para já, nunca esquecendo o que fui!" Pois, não engana! É isto! Um Senhor... Obrigado e parabéns!

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